terça-feira, 2 de agosto de 2011
"De Santa-fé e Torrão"
Dos ranchos de santa-fé sei pouco, nunca conheci um, mas algumas vezes ouvi de meus pais, que habitaram esses lares humildes, relatos da infância emoldurada por paredes feitas de terra, de torrões de terra. E o que sempre me chamou a atenção em suas histórias foi a simplicidade, a pureza daquele viver, a união familiar, a terra dando abrigo àqueles que viviam dela, essa comunhão entre homem e campo, a sabedoria dos construtores dos ranchos e a delicadeza que as avós tinham para mantê-los arrumados e perfumados. Eram pobres, mas ricos de alma.
A letra que recebi, de Gargione Ávila, o Seu Gargione, me fez relembrar essas histórias, e por isso não só me identifiquei com o tema, como tenho um carinho especial por ele. Mas, o que quero lhes contar é sobre a interpretação que eu tive da letra, depois, quando já havíamos feito a melodia e o arranjo dela, parecia outra letra, que não falava somente daqueles ranchos de santa-fé e torrão, mas também de outros ranchos, do teu rancho, do rancho em que eu habito, aquele que me deram pra eu passar por aqui e que um dia será tapera. Interessante, não é? E estou postando este texto porque não sei se outras pessoas podem ter a mesma interpretação e porque eu gostaria de saber o que um intérprete sente quando interpreta um tema.
Mais do que uma casa, cantei o rancho em que habitaram meus pais e o rancho em que habito. O qual muitos miram de longe e tiram suas conclusões, mas só aqueles que se aproximam podem conhecer sua essência; meu rancho que vem do barro, que é da minha terra e tem por ela amor; meu rancho efêmero, que veio e voltará da terra, que veio e voltará ao pó; meu rancho que guarda marcas do meu tempo; meu rancho que lá adiante também será tapera.
Poder cantar esses sentimentos e chegar ao teu rancho, vale mais que qualquer premiação, de 2º lugar, melhor letra, melhor arranjo e até mesmo primeiro lugar. Isso envaidece, traz reconhecimento ao trabalho que ainda “engatinha” e todos nós gostamos e muito, porque somos mundanos. Mas, se além disso, ainda cantarmos com o coração e entre amigos, o interior do rancho fica mais bonito, pois se enche de luz.
(Meu agradecimento a Gargione Ávila, Elton Escobar, Alexandre Souza, Douglas Vallejos, Cristofer Pinho e Clarissa Ferreira, muita paz e luz! A foto do meu rancho é de Raquel Pires a quem agradeço por ter registrado o momento.)
Boa noite, gurizada!
“Quem vê um rancho de longe
Pode achá-lo meio rude
Só quem cruza suas soleiras
Pode ver suas virtudes:
Guarda o calor pros invernos,
Pros verões guarda o frescor
E pra dois apaixonados
É mais que um ninho de amor
Só quem habitou um rancho
De santa-fé e torrão
Compreende a poesia
Que há na simples construção
Feita por mãos calejadas
De um João-de-barro, o construtor
Formado nas faculdades
Do campo e do corredor
Só quem habitou um rancho
De santa-fé e torrão
Compreende a poesia
Que há na simples construção
Vem da terra, é amor
É de barro e suor
As paredes do meu rancho
De santa-fé e torrão
Tudo tem começo e fim
Nada escapa desta sina
E nunca se vai saber
Onde começa e termina
Se o homem retorna ao pó
Pois foi do pó que surgiu,
O torrão volta pra terra
De onde um dia saiu
Cada canto guarda a história
Que foi vivida por mim
E teve como moldura
O chão de barro e o capim
Neste rancho resisti
À angústia das esperas
Na certeza que lá adiante
Nós dois seremos tapera.”
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Um comentário:
Parabéns, Aninha.
Estarei sempre na tua torcida!
Sucesso, sempre e mais!
Beijão.
Larissa Pinho
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